segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Condições históricas e padrões de voto nos Estados Unidos

Abaixo, mostramos uma correlação interessante entre plantações de algodão nos anos 1860's e padrões de voto nas últimas eleições americanas (roubado do blog do Chris Blattman). Os distritos azuis indicam vitória democrata, enquanto que os distritos vermelhos, vitória republicana. O mapa também só mostra o sudeste americano.



A correlação pode indicar diversos fatores: (a) produções de algodão indicam uso de mão-de-obra escrava, e portanto, indicam maior concentração de negros (entre os negros, o Obama ganhou com margem de cerca de 90%, se eu não me engano); (b) indicar que essas áreas, por terem virado urbanas, hoje tem alta concentração populacional (democratas tendem a ganhar em regiões fortemente urbanizadas); (c) a região, anteriormente produtora de algodão, até hoje é mais pobre e, por isso, tende a votar a favor dos democratas.

Fatores estranhos de qualquer uma dessas teses: (a) é surpreendente que, nos Estados Unidos, a mobilidade de negros tenha sido baixa o suficiente para preservar esses distritos como negros (afinal, a mobilidade dos trabalhadores nos EUA é alta). Mas essa é uma tese plausível, pois pode ter ocorrido por alguma dinâmica de segregação, ou simplesmente, o maior nível de pobreza dos negros em 1860 reduziu sua mobilidade. Com relação a tese (b) (roubada de um comentário do blog do Chris Blattman), só é estranho ver uma área cuja vantagem comparativa era produção agrícola de repente transformar-se em área urbana. Isso pode ter ocorrido se o fim da escravidão tiver gerado grande concentração de mão de obra pobre, desempregada e com pouca mobilidade, o que por vez incentiva a concentração destes em centros urbanos. Porém, mais estranha ainda é a tese (c), afinal, estudos indicam que há convergência de renda nos Estados Unidos (Sala-i-Martin e Barro (1992), e comentando o aumento recente da desigualdade de renda americana, temos o Enrico Moretti, com um paper chamado "Real Wage Inequality", que mostra que, uma vez descontados os diferenciais regionais de inflação de preços de imóveis, a desigualdade de renda não tem subido). Essa idéia de que há convergência também pode colocar em dúvida as teses (a) e (b), que dependem de baixa mobilidade e de algum tipo de armadilha de pobreza...

sábado, 6 de dezembro de 2008

IPEA e os (maus) incentivos a pesquisa

Antes de ontem (dia 4 de dezembro), foi anunciado que o IPEA fará um programa de incentivo a pesquisa em economia em colaboração com professores de universidades federais e estaduais. A idéia é dar cerca de 3 mil reais por mês para cada professor, bolsa essa que duraria 12 meses, o que acarretaria gastos totais do programa de cerca de 1 milhão e duzentos mil reais.

Isso faz pensar: pelo menos temos algum esforço para incentivar a pesquisa no Brasil. Ainda mais, o risco de professores se inscreverem para o recebimento da bolsa e nada fazerem é parcialmente solucionado: para receber a bolsa, o pesquisador deve ter um projeto de pesquisa em desenvolvimento econômico pré-aprovado pela universidade e pelo IPEA. A concorrência entre professores de uma mesma universidade deveria incentivar o aparecimento de projetos de pesquisa, e o “subsídio” a pesquisa pode ser um mecanismo de incentivo razoável em um mercado em que os riscos de o projeto não dar certo são altos (Gustavo Manso, 2005).

Aí começam a vir as dúvidas. Para começar, o que impede um professor de criar um projeto de pesquisa e, após o recebimento da bolsa, nada fazer? Com certeza, nesse ponto, dependemos somente da motivação individual dos pesquisadores das universidades públicas brasileiras. Mas até esse ponto, nenhuma novidade, nada que não seja um problema com quase todos os programas governamentais de incentivo a pesquisa.

O mais grave, na verdade, é: o que garante que os projetos aprovados pelo IPEA terão alguma relevância? A linha do programa denuncia: “O programa pretende contribuir para a geração de políticas sólidas e consistentes com (...) uma visão estratégica para o processo do desenvolvimento brasileiro (...) à luz das contribuições dos maiores pensadores brasileiros.” Para esclarecer: cada pesquisador escolhe um nome (dentre a lista que o IPEA selecionou) e baseia seu projeto de pesquisa nele. Não vou nem entrar na questão de quem foi um grande pensador do desenvolvimento econômico brasileiro. Além disso, esses projetos, normalmente justificados como "criadores de pluralidade do pensamento econômico", tem como "conselho orientador" um nada plural, baseado em nomes como Pochmann, Belluzo, Bresser Pereira, Maria da Conceição Tavares e Delfim Neto.

Não precisa de muito para duvidar do programa: o IPEA está gastando um milhão e duzentos mil reais para estimular revisões da literatura de Celso Furtado, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, entre outros (também incluem o Simonsen e o Roberto Campos, tudo bem, mas vamos lembrar do "conselho orientador"...). Vem quase que por natureza a conclusão: será difícil alguma coisa nova aparecer. E mais difícil ainda, evitar pensar que o IPEA, na expressão do Tiago Caruso, foi pintado de cinza.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Globalização e desigualdade mundial

Aprendemos, desde os nossos anos de escola, que a globalização vem tornando o mundo mais desigual. Os defensores da tese dizem: a globalização faz os países pobres produzirem produtos agrícolas (sem valor comercial, supostamente) e leva os ricos a produzirem produtos industriais (com valor). Sendo assim, a globalização prenderia os pobres aos males do subdesenvolvimento, enquanto que os ricos seriam ajudados por ela. Naturalmente, daí chega-se na tese: a globalização gera desigualdade. Um professor meu de escola chegou a dizer numa aula: se descobríssemos que essa tese é falsa, ganharíamos um Nobel (ou algum outro prêmio igualmente difícil de conquistar).

Será que essa tese é tão robusta assim? Façamos um exercício levemente diferente. Se a desigualdade de renda entre países estivesse crescendo, necessariamente, a renda dos países mais ricos teria que estar crescendo mais que a dos mais pobres. Consequentemente, o consumo dos países ricos cresceria mais que o dos países pobres. Daí, a demanda dos paises ricos pelos produtos do país pobre cresceria (junto com o consumo). Imediatamente, os preços dos produtos agrícolas subiriam, e os produtos produzidos pelos pobres deixariam de ser sem valor. Ou seja, a tese de que a globalização gera desigualdade, por este raciocínio, parece ser inconsistente: é mais provável, por essa lógica, que o comércio internacional gere maior igualdade.

O meu professor reclamaria desta lógica. Afinal, ele diria, se os preços forem rígidos (por exemplo, se os preços forem fixados em contratos), o comércio internacional não gera maior igualdade. Celso Furtado, conhecido por seus estudos de história econômica brasileira, foi até mais radical: disse que os preços de produtos agrícolas cairiam pelo resto de nossas vidas. Porém, esse contra-argumento parece pouco razoável nos dias de hoje: os últimos anos presenciaram preços de commodities agrícolas e metálicas chegando a picos históricos (isso está se revertendo só agora, com a recessão americana).

Ainda mais, podemos ver uma correlação interessante. Os últimos 30 anos foram de crescente globalização, com crescentes fluxos financeiros e de produtos. Ao mesmo tempo, o economista Xavier Sala-i-Martin (um dos campeões de citações em economia) mostra em um de seus trabalhos uma estimativa da distribuição da renda mundial para o período entre 1970-2000. O resultado do estudo é claro em alguns aspectos: a renda média do mundo cresceu e o número de pessoas abaixo da linha de pobreza caiu*. Ainda mais, a renda dos mais ricos cresceu menos que a renda dos mais pobres. Ou seja, houve redução da desigualdade de renda mundial. Outros economistas e historiadores econômicos perceberam a mesma correlação: a crescente globalização no pós-guerra esteve associada a menor desigualdade de renda entre os países.

Ou seja, sabemos que a tese que aprendemos na escola não é tão robusta quanto dizia o meu professor. É verdade, não existem evidências inequívocas de que a globalização está reduzindo a desigualdade. Afinal, educação, instituições, saúde, entre outros, podem estar influindo na redução da desigualdade. Porém, até agora, não lembro de nenhum dado que mostre a desigualdade de renda do mundo crescendo como decorrência da globalização. Pena que isso não dá o prêmio Nobel, nem 10 milhões de coroas suecas.

Notas:
* Para deixar mais claro: não foi especificada nenhuma linha de pobreza. Considere QUALQUER nível de renda x. O percentual de pessoas no mundo com renda abaixo de x foi decrescente entre as décadas de 1970-1990. Se desconsiderarmos a República Democrática do Congo (abalada por guerras na década de 90), o percentual de pessoas no mundo com renda abaixo de x foi decrescente no período entre 1970-2000.

Referências:
Deininger, Klaus; Lyn Squire (1996), “A New Data Set Measuring Income Inequality,” World Bank Economic Review

Sala-i-Martin, Xavier (2006), "The World Distribution of Income: Falling Poverty and...Convergence, Period", Quarterly Journal of Economics

Ben-David, Dan (1993), "Equalizing Exchange: Trade Liberalization and Income Convergence", Quarterly Journal of Economics

Frankel, Jeffrey A.; David Romer (1999), "Does Trade Cause Growth?", American Economic Review

sábado, 30 de agosto de 2008

Tirando o ódio dos megafones

Tento responder aqui a seguinte questão: por que alguém divulgaria uma ideologia de ódio (exemplos: nazismo, al-Qaeda)? Por que incentivar ações preconceituosas?

Existem argumentos fortes para que as pessoas queiram ouvir mensagens de preconceito. Em primeiro lugar, quando as pessoas têm preconceitos, o melhor que os formadores de opinião e líderes políticos têm a fazer é divulgar idéias preconceituosas. Convencer as pessoas a mudar de idéia (formar uma nova idéia é outra coisa) é muito difícil, mesmo para o melhor dos oradores. Da mesma forma, é difícil fazer um grupo apoiar um líder sem que o grupo concorde com líder. Ou seja, os líderes, em busca de apoio, têm incentivos fortes a adotar e reforçar os preconceitos da população.

Existem outros motivos para divulgar ideologias de ódio. Citarei mais uma: as pessoas não gostam de ouvir coisas que as desmereçam, como colocado em Akerlof e Dickens (1982). Devido a isso, em períodos de crise, os grupos sociais querem ouvir mensagens que os coloquem como vítimas, e não como culpados da crise. Qualquer um que queira ter apoio por parte de uma população (vamos dizer, políticos, escritores, entre outros) teria fortes motivações, nesse contexto, para divulgar idéias de ódio contra um grupo minoritário. Ou seja, principalmente em momentos de crise, os líderes não só seguem os preconceitos da população, como criam ódio.

Isso significa que devemos restringir a liberdade de expressão nesses casos de ódio? Afinal, com liberdade de expressão, teríamos um grupo A exprimindo ódio contra um grupo B, e o grupo B exprimindo ódio contra A. Aqueles que quisessem buscar informação imparcial ouviriam os dois grupos e, portanto, teriam o julgamento razoável de não odiar ninguém.

O ponto, porém, é que, em termos de ideologia de ódio, o público alvo é exatamente o público que não está em busca de imparcialidade. No caso da primeira teoria citada – em que políticos seguem os preconceitos do povo –, as pessoas, por não conhecerem a qualidade da informação provida por um líder, julgam a informação com base em seus preconceitos. No caso da segunda teoria – em que os políticos criam preconceitos –, as pessoas querem ouvir líderes que culpem o outro grupo pelos males que enfrentam. Claramente, em ambos os casos, o ódio é uma mensagem direcionada a grupos que não ouviriam as mensagens do outro lado.

Apesar de eu defender a liberdade de expressão, no caso de divulgação de ódio (à la Mein Kampf), confio na incapacidade de muitos em julgar o que é razoável e o que não é. Por isso, defendo a restrição a expressão de ódio. Mesmo assim, reconheço que existem muitos casos em que a definição entre restrição e liberdade é ambígua.

Referências
Matthew Gentzkow, Jesse M. Shapiro (2006), “Media Bias”, Journal of Political Economy
George Akerlof, William Dickens (1982), “The Economic Consequences of Cognitive Dissonance”, American Economic Review
Edward Glaeser (2005), “The Political Economy of Hatred”, Quarterly Journal of Economics


Observação: Agradeço ao Caruso pelos comentários sobre a escrita.

De onde vem o preconceito?

Por que pessoas se odeiam? Nos debates sobre preconceito, aparecem muitas teorias relacionando ódio a conflitos entre classes e grupos sociais. As teorias que tratam das motivações individuais para a ocorrência de ódio são muito menos debatidas ou levadas em conta. Se debatêssemos essas teorias “individualistas” de ódio poderíamos, a luz delas, discutir políticas para reduzir o preconceito entre diferentes grupos.

Uma primeira teoria individualista do preconceito diz que o ódio é simplesmente um desgosto de uma pessoa por outra. Ou seja, essa teoria (que, apesar de ser a mais simples que se pode enunciar, tem conclusões profundas) afirma que preconceito contra negros é resultado de brancos que têm desgosto inato por negros. Em casos de mercado de trabalho, isso implicaria que brancos preconceituosos prefeririam contratar um branco a um negro igualmente produtivo. Conseqüentemente, o salário dos negros seria menor do que o dos brancos.

Entretanto, um branco sem preconceito (vamos chamá-lo de “profissional”) estaria indiferente entre contratar qualquer um dos dois. O “profissional”, nessa situação, se aproveitaria do salário mais baixo dos negros, os contrataria e assim, produziria de forma mais eficiente que o branco preconceituoso. Com isso, o “profissional” conseguiria roubar o mercado do preconceituoso. Essa lógica tem alguma confirmação empírica. Levine, Levkov e Rubinstein (2008) mostram que choques de aumento de competitividade no setor bancário reduziram, para os empregados no setor, a diferença de salários entre negros e brancos numa magnitude de 20-30%. Assim como no caso do mercado de trabalho, pode-se construir raciocínios semelhantes para outras relações sociais, sem alterar a conclusão principal dessa teoria: desde que haja gente o suficiente sem preconceito, não haverá preconceito algum nas relações sociais.

A teoria, porém, deixa de explicar diversos “fatos estilizados” da ocorrência de preconceito. A começar, essa teoria não explica o porquê de grandes massas terem “preconceitos coletivos” contra um outro grupo (vide mulçumanos e americanos, alemães contra judeus, ciganos e homossexuais na época da Alemanha nazista e brancos do sul americano contra negros). Ainda mais, essa teoria diria que, desde que haja um número suficientemente grande de pessoas “iluminadas”, não haverá preconceito algum nas relações sociais. Claramente, existem evidências de ocorrência de preconceito na decisão de moradia (vide toda a literatura de sorting), em relações de fundos de investimento com empresas listadas em bolsa, em contratações em pequenas empresas, entre outros.

Um fator que deve ser adicionado à teoria acima é que preconceito se forma via “consenso” social. Com isso, não quero dizer que grupos se odeiem por conflitos de classes/etnias. Quero dizer que, em face de falta de informação sobre o mundo, o melhor que muitos indivíduos podem fazer é simplesmente seguir o que os outros fazem, como explicado em Banerjee (1992). Ou seja, desde que haja convívio moderadamente segregado entre pessoas de raças diferentes, não é difícil vislumbrar o ódio de um por negros rapidamente sendo adotado pelo grupo. Essa teoria explica porque é comum ver pessoas que, de antemão, dizem que nunca agiriam com preconceito, porém, na hora da prática, discriminam contra um certo grupo (ocorrências registradas em Arrow (1998)). Ainda mais, esse fator explica porque existe o “preconceito coletivo”, e porque os “iluminados” não têm tanto efeito sobre o fim do preconceito.

Com isso, entende-se que preconceito é muito mais o resultado de falta de informação, e que o “desgosto” aparece em decorrência da falta de informação. Assim sendo, é muito mais natural defender limitação aos preconceitos que considerá-los normais. Como fazer isso, porém, é uma questão muito mais complicada.

Referências

- Gary S. Becker, “The Economics of Discrimination”, Chicago, University of Chicago Press, 1957
- Ross Levine, Alexey Levkov, Yona Rubinstein (2008), “Racial Discrimination and Competition”, NBER Working Paper no. 14273
- Thomas Schelling (1971), “Dynamic Models of Segregation”, Journal of Mathematical Sociology
- Lauren Cohen, Andrea Frazzini, e Christopher Malloy (2007), “The Small World of Investing: Board Connections and Mutual Funds Returns”, NBER Working Paper no. 13121
- Abhijit Banerjee, “A Simple Model of Herd Behavior”, Quarterly Journal of Economics, 1992
- Kenneth J. Arrow, “What Has Economics to Say About Discrimination?”, Journal of Economic Perspectives, 1998

Observação: Agradeço ao Caruso pelos comentários sobre a escrita.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Mídia – entre a coleira e o virar latas

Existe, em certos meios, um debate com relação aos limites à liberdade de expressão e ao dever do Estado de restringir ou não os canais de mídia. Os que argumentam contra os limites e a restrição dizem ser a liberdade de expressão um direito conseguido com a democracia, o qual não devemos deixar se esvaziar. Por outro lado, outros argumentam que a mídia tem um papel essencial de transmissão de informação e que, deixada livre, deturpa (ou até cria) informações, fator que prejudica o bem estar social e o exercício democrático.

O meu argumento aqui, como em várias outras questões, não concorda com nenhum dos pontos de vista. O principal problema da discussão feita dessa forma é o caráter normativo dos argumentos apresentados. Ou seja, o que garante que os meios de comunicação não estão interferindo no direito dos outros ao divulgar informações por um lado, não se caracterizando sua restrição um limite à liberdade de expressão, mas sim, uma afirmação da soberania dos indivíduos? Por outro lado, se a mídia altera, deturpa, inventa informações, o que a faz agir dessa forma? Com essa pergunta, se responde também: será que temos alguma alternativa ao viés dos meios privados de mídia?

Não passarei tempo nenhum caracterizando a constitucionalidade da restrição à mídia, tema sobre o qual nada entendo. Porém, posso argumentar sobre quais são alguns potenciais motivos para a imprensa viesar notícias. Uma primeira possibilidade que justifica a ocorrência disso é o viés ideológico do próprio dono do meio de comunicação. Pode ocorrer de o dono de um jornal ser um político, que usa o seu meio como forma de trazer para si eleitores. No limite, caso todos os jornais de um país fossem de políticos, teríamos diferentes jornais fornecendo diferentes informações que beneficiam diferentes políticos. Se os leitores buscarem "imparcialidade", eles provavelmente a terão se lerem diferentes fontes.

Uma segunda alternativa que explica o viés de mídia é de um argumento de Andrei Shleifer e Sendhil Mullainathan, dois economistas da universidade de Harvard. Eles argumentam: as pessoas têm uma tendência a categorizar o mundo – políticos são de esquerda ou direita e não mais ou menos redistributivos; uma pessoa é boa ou má, não há circunstâncias. Por essa tendência, ao ouvir uma informação de conteúdo contrário a sua opinião, porém, não tão "relevante" (ou seja, a informação é contrária às suas crenças, mas não forte o suficiente para fazê-lo mudar de idéia), o indivíduo simplesmente esquecerá a notícia. Na luta para ser lembrado, e assim, conseguir público, lucros e se sustentar, os meios de imprensa terão um incentivo a viesar a informação no sentido da crença inicial do público. Dado um assunto, em que opiniões de todos os tipos existem, alguns órgãos de imprensa deturparão a informação para um lado, enquanto outros, para outro lado. De novo, lendo diferentes fontes, se conseguiria informação imparcial.

Uma terceira alternativa, dos economistas de Chicago Matthew Gentzkow e Jesse Shapiro, dá um argumento semelhante ao acima. As pessoas têm uma crença inicial com relação ao que é correto e o que não é. Ao mesmo tempo, na hora de comprar um jornal, por exemplo, não sabem se o jornal transmite informações verdadeiras ou falsas. Por isso, o melhor que têm a fazer é julgar a qualidade do jornal pelos seus preconceitos. Isso incentiva os jornais a adulterar as informações no sentido da crença inicial do público como forma de "garantir" qualidade. Com esse último argumento, os economistas aqui citados argumentam que a ocorrência de muitos órgãos de mídia possibilitam não somente diversidade de fontes, como também diminuem o incentivo a viesar informações: afinal, um leitor observando 10 jornais indo contra suas crenças e 1 a favor de suas crenças pode ficar mais propenso a mudar de opinião.

Em todos os argumentos citados acima, a possibilidade de se obter informação correta depende da existência de diversos canais de mídia agindo livremente. A alternativa seria a regulação dos meios de comunicação pelo Estado, o que, inevitavelmente, traria o viés do governante à mídia.

Entre uma mídia cão de guarda de coleira, ou uma mídia vira latas, eu sou mais a vira latas.


Referências:
Andrei Shleifer, Sendhil Mullainathan (2006), "The Market for News", American Economic Review
Matthew Gentzkow, Jesse M. Shapiro (2006), "Media Bias", Journal of Political Economy
Matthew Gentzkow, Jesse M. Shapiro (2008), "What Drives Media Slant? Evidence from U.S. Newspapers", trabalho em progresso