sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Geografia importa para desenvolvimento? (esse post tá vindo com algum atraso...mas tudo bem...)

São vários os motivos pelos quais geografia pode deixar um país mais rico. Duas teses bastante proeminentes dessas são: (1) países mais distantes dos grandes centros consumidores mundiais podem ter menos acesso a mercados internacionais (em outras palavras, ser mais fechado ao comércio internacional por causas naturais), e por isso, ter renda menor e (2) ter recursos naturais aumenta a quantidade de recursos políticos, reduzindo pressões por menor corrupção e aumentando conflitos políticos (em outras palavras, piora as instituições políticas e acaba por gerar danos econômicos ao país). Será que essas teses são, de fato, reais? Ou será que o subdesenvolvimento econômico decorre de outras variáveis que andam juntas com geografia, comércio internacional e instituições políticas, mas variáveis essas que não tem nada a ver com os canais descritos acima?

Com relação a primeira tese, saiu um artigo do James Feyrer que usa uma "mudança na distância entre países" para ver o impacto que isso tem sobre comércio internacional, e como essa mudança em quantidade de comércio internacional teve impacto sobre renda. Não, os continentes não se mexeram. O que o autor faz é se aproveitar do fechamento do Canal de Suez entre 1967 e 75, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterraneo no Egito. O fechamento do canal de Suez, mostra o autor, gerou uma queda do comércio entre a Ásia e a Europa, e essa queda de comércio internacional teve impactos negativos sobre a renda per capita dos países afetados, mesmo controlando para efeitos fixos do país. Para os que conhecem os artigos sobre o tema, percebam a diferença para o Frankel e Romer (1999) e que o instrumento do Feyrer é necessário...

Com relação a segunda tese, saiu um artigo aplicado ao Brasil do Caselli e Michaels (artigo que já foi citado aqui, para aqueles que acompanham blogs de economia brasileiros). Receitas de petróleo tem pouco impacto (ou impacto zero) sobre PIB municipal (contando-se somente as atividades não petrolíferas, naturalmente). Pior que isso, a provisão de bens públicos, infraestrutura e transferências de renda nesses municípios não crescem na mesma medida que os gastos públicos crescem. Para confirmar ainda melhor a tese, receitas de petróleo estão associadas com maior número de reportagens na mídia de prefeitos em atividades ilegais.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Notícia preocupante

Notícia nova do jornal O Globo:

No documento "Táticas eleitorais para 2010", além de defender o "centralismo" em torno da candidatura de Dilma, os dirigentes [do PT] pregam grande mobilização popular na eleição deste ano. E sugerem a realização de uma reforma politica, por meio de uma assembleia nacional constituinte - o que é visto com desconfiança pela oposição.

Não nego a necessidade de reformar algumas instituições eleitorais: essas reformas são necessárias para reduzir corrupção e fazer as decisões políticas serem mais representativas dos gostos da população. Porém, aprovar uma assembléia constituinte para mudar essas regras é desculpa para fugir das regras de maioria qualificada. E mudando regras eleitorais sem maiorias qualificadas, se torna bem mais fácil implementar uma ditadura de facto sem recorrer a golpes. Eu tinha resistência a aceitar a idéia do PT tentando implementar a solução do Chávez no Brasil (me parecia muito teoria da conspiração), mas essa notícia mudou a minha cabeça...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Resposta a algumas críticas de expectativas racionais

Nas discussões de blog que participo, muita gente aparece criticando expectativas racionais. Em outro post, citei algumas entrevistas nas quais o entrevistador tentava, frequentemente, criticar o uso de expectativas racionais em macroeconomia. Heterodoxos, e um sem fim de comentaristas econômicos aumentaram as críticas a esse conceito teórico com o surgimento da crise. Como a hipótese de expectativas racionais pode ser tão amplamente adotada quando ela é claramente irrealista?

O motivo para levar essa hipótese em conta na hora de fazer teoria macroeconomica, pelo menos para mim, não é a falta de hipóteses alternativas. Mankiw e Reis (2002) trabalham com a hipótese de custos de informação limitando reajustes de expectativas, Akerlof (1979, 2000) fez trabalhos mostrando tendências psicológicas dos agentes a cometerem erros na formação de expectativas. Outras possibilidades abundam na literatura.

Existe, porém, um motivo bastante razoável para levar em conta a idéia de expectativas racionais na formulação de modelos macroeconomicos. Muitas decisões que as pessoas tomam (por exemplo, qual preço o dono do boteco colocará para a cerveja, qual salário o sindicato/trabalhador pedirá para o empregador) dependem de previsões dos preços futuros. É natural, portanto, que as pessoas se esforcem para tentar fazer alguma previsão do preço que esteja, de alguma forma, relacionada com o preço futuro de que fato ocorrerá. Essa tentativa das pessoas - de tentar prever preços futuros - é relevante para política. Uma forma de captar essa idéia é adicionar expectativas racionais (bem na linha do Einstein de "simple but not simpler").

O questionamento geral, porém, me parece ser o de "será que essa idéia não está na categoria do 'simpler'?". Será que os resultados radicais (por exemplo, de neutralidade da moeda) não são resultado da hipótese extremada de expectativas racionais? E a resposta é, obviamente, "não". Modelos que adicionam rigidez de preço, de mercado de trabalho, entre outros tipos de rigidez, são suficientes para nos dar resultados menos radicais com relação a efeitos de política monetária sobre atividade econômica.

Por esse motivo, eu realmente não entendo porque no Brasil muitos se recusam a aceitar qualquer resultado de qualquer modelo que inclua expectativas racionais. Nenhuma conclusão com relação a efeitos de política monetária está sendo presumida somente com essa hipótese. Mais ainda, aqueles que dizem que a culpa da crise está em parte na idéia de expectativas racionais (como o autor dessas entrevistas) dá a impressão de estar dando tiro as cegas.