Nas discussões de blog que participo, muita gente aparece criticando expectativas racionais. Em outro post, citei algumas entrevistas nas quais o entrevistador tentava, frequentemente, criticar o uso de expectativas racionais em macroeconomia. Heterodoxos, e um sem fim de comentaristas econômicos aumentaram as críticas a esse conceito teórico com o surgimento da crise. Como a hipótese de expectativas racionais pode ser tão amplamente adotada quando ela é claramente irrealista?
O motivo para levar essa hipótese em conta na hora de fazer teoria macroeconomica, pelo menos para mim, não é a falta de hipóteses alternativas. Mankiw e Reis (2002) trabalham com a hipótese de custos de informação limitando reajustes de expectativas, Akerlof (1979, 2000) fez trabalhos mostrando tendências psicológicas dos agentes a cometerem erros na formação de expectativas. Outras possibilidades abundam na literatura.
Existe, porém, um motivo bastante razoável para levar em conta a idéia de expectativas racionais na formulação de modelos macroeconomicos. Muitas decisões que as pessoas tomam (por exemplo, qual preço o dono do boteco colocará para a cerveja, qual salário o sindicato/trabalhador pedirá para o empregador) dependem de previsões dos preços futuros. É natural, portanto, que as pessoas se esforcem para tentar fazer alguma previsão do preço que esteja, de alguma forma, relacionada com o preço futuro de que fato ocorrerá. Essa tentativa das pessoas - de tentar prever preços futuros - é relevante para política. Uma forma de captar essa idéia é adicionar expectativas racionais (bem na linha do Einstein de "simple but not simpler").
O questionamento geral, porém, me parece ser o de "será que essa idéia não está na categoria do 'simpler'?". Será que os resultados radicais (por exemplo, de neutralidade da moeda) não são resultado da hipótese extremada de expectativas racionais? E a resposta é, obviamente, "não". Modelos que adicionam rigidez de preço, de mercado de trabalho, entre outros tipos de rigidez, são suficientes para nos dar resultados menos radicais com relação a efeitos de política monetária sobre atividade econômica.
Por esse motivo, eu realmente não entendo porque no Brasil muitos se recusam a aceitar qualquer resultado de qualquer modelo que inclua expectativas racionais. Nenhuma conclusão com relação a efeitos de política monetária está sendo presumida somente com essa hipótese. Mais ainda, aqueles que dizem que a culpa da crise está em parte na idéia de expectativas racionais (como o autor dessas entrevistas) dá a impressão de estar dando tiro as cegas.
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