São vários os motivos pelos quais geografia pode deixar um país mais rico. Duas teses bastante proeminentes dessas são: (1) países mais distantes dos grandes centros consumidores mundiais podem ter menos acesso a mercados internacionais (em outras palavras, ser mais fechado ao comércio internacional por causas naturais), e por isso, ter renda menor e (2) ter recursos naturais aumenta a quantidade de recursos políticos, reduzindo pressões por menor corrupção e aumentando conflitos políticos (em outras palavras, piora as instituições políticas e acaba por gerar danos econômicos ao país). Será que essas teses são, de fato, reais? Ou será que o subdesenvolvimento econômico decorre de outras variáveis que andam juntas com geografia, comércio internacional e instituições políticas, mas variáveis essas que não tem nada a ver com os canais descritos acima?
Com relação a primeira tese, saiu um artigo do James Feyrer que usa uma "mudança na distância entre países" para ver o impacto que isso tem sobre comércio internacional, e como essa mudança em quantidade de comércio internacional teve impacto sobre renda. Não, os continentes não se mexeram. O que o autor faz é se aproveitar do fechamento do Canal de Suez entre 1967 e 75, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterraneo no Egito. O fechamento do canal de Suez, mostra o autor, gerou uma queda do comércio entre a Ásia e a Europa, e essa queda de comércio internacional teve impactos negativos sobre a renda per capita dos países afetados, mesmo controlando para efeitos fixos do país. Para os que conhecem os artigos sobre o tema, percebam a diferença para o Frankel e Romer (1999) e que o instrumento do Feyrer é necessário...
Com relação a segunda tese, saiu um artigo aplicado ao Brasil do Caselli e Michaels (artigo que já foi citado aqui, para aqueles que acompanham blogs de economia brasileiros). Receitas de petróleo tem pouco impacto (ou impacto zero) sobre PIB municipal (contando-se somente as atividades não petrolíferas, naturalmente). Pior que isso, a provisão de bens públicos, infraestrutura e transferências de renda nesses municípios não crescem na mesma medida que os gastos públicos crescem. Para confirmar ainda melhor a tese, receitas de petróleo estão associadas com maior número de reportagens na mídia de prefeitos em atividades ilegais.
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