Saíram notícias hoje com relação aos novos planos do presidente Barack Obama para o combate a crise. Entre as medidas, estavam o anúncio de protecionismo sofisticado para ferro e aço americano: o governo quer aprovar, junto com um pacote de 819 bilhões de dólares, uma medida que proíbe o tesouro americano de comprar ferro e aço estrangeiros para obras de infraestrutura.
Para entender melhor o cenário e as percepções políticas nos EUA com relação ao pacote, o jornal "O Globo" entrevistou o deputado democrata americano, Brian Baird, com relação a essas medidas. O que pode ser falado de melhor (talvez, de mais otimista) sobre a entrevista é: a classe política brasileira, comparativamente, é até mediana...
Entre as pérolas criadas pelo deputado, estão as frases:
"Até Adam Smith [...] acreditava que há algumas áreas essenciais para a segurança doméstica, e que precisam ter algum tipo de proteção. Acredito que a produção de aço é uma dessas áreas." (Vejam o misto: um argumento de autoridade mal dado, junto com a hipótese pífia de que um país sem uma indústria de aço não tem segurança nacional. (1) O Brasil tem indústria de aço, mas será que tem um exército forte o suficiente pra lutar uma guerra? (2) Por que será que só em períodos de crise econômica que o aço é relevante pra segurança nacional, e só em períodos de crise é necessário defender a indústria de aço?)
(Em resposta a pergunta: "Se outros países reagirem, não há risco de uma guerra comercial?") "Isso seria um erro terrível. Não é do interesse da Europa ou do resto do mundo ver a economia americana continuar no estado que está." (Realmente, por esse desinteresse na crise americana, o mundo começará a ser caridoso com os EUA, e não retaliar medidas de proteção comercial. Se bobear, para o deputado, o mundo vai mais longe, e deixarão de haver ameaças terroristas contra os EUA....por que os EUA não pensaram nisso antes? Medida para acabar com ameaças a segurança nacional: entrar em crise econômica...)
"Se você acredita que é preciso ter um pacote de estímulo para ajudar a economia americana e, portanto, a economia global, você vai ter que engolir, pelo menos temporariamente, a cláusula 'Compre EUA'." (Essa é uma pérola que precisa de esforço pra ser criada. Eu não acredito que as pessoas consigam ser tão burras naturalmente - talvez eu seja esperançoso demais. Basicamente, o deputado começa com uma hipótese bem estranha de que protecionismo é necessário ao pacote de estímulo à economia americana. E para fechar com chave de ouro, o deputado propõe: para ajudar o resto do mundo - mundo menos EUA -, o resto do mundo tem que redistribuir renda para os EUA e engolir a cláusula 'Compre EUA'.)
Os EUA têm na sua história um caso parecido com o atual, ocorrido há cerca de 80 anos atrás, em que houve crise na Bolsa de Valores de NY, a taxa de desemprego chegou a níveis estratosféricos e tudo mais que pode acontecer numa crise aconteceu. Eles tentaram a mesma saída pra crise: criar proteção comercial com a passagem da lei Smoot-Hawley e adivinhem: não deu certo. Ao mesmo tempo, o Senado Americano (ou a Câmara dos Deputados americana) tem a maior biblioteca do mundo. Não é possível que aprender a história americana seja tão caro para esse deputado, e nem que seja tão caro para o Obama.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Israel vs. Hamas - Comentário sobre as discussões atuais
Em face à nova escalada de violência na região próxima à Faixa de Gaza, o assunto do conflito entre Israel e a Palestina voltou a ser discutido. A discussão de agora, como era de se esperar, contém os mesmos argumentos das últimas quinhentas discussões sobre o tema (o que pode ser uma grande surpresa para alguns: como as pessoas, quando se trata de política, têm cabeça dura).
De um lado, defensores das ações israelenses dizem que os ataques do governo são estrategicamente e moralmente justificáveis, tanto por criar uma punição ao terrorismo quanto pelo direito do Estado de Israel de se defender. Outro argumento, de Alan Dershowitz, conhecido advogado de Harvard, joga a culpa por mortes civis palestinas aos movimentos terroristas: a atuação moral e democrática de Israel, evitando mortes civis, incentiva o uso de escudos humanos como proteção por parte do Hamas, o que não ocorreria fosse Israel uma autocracia.
Por outro lado, os opositores da estratégia israelense argumentam que os ataques israelenses só geram ódio dos palestinos contra judeus, o que motiva mais terrorismo. Além do mais, mortes civis palestinas não são justificáveis por mortes civis israelenses; e a desproporcionalidade dos ataques israelenses, muito mais fortes que os ataques terroristas, é um absurdo humanitário.
Apesar das defesas apaixonadas dessas teses, o debate seguiu o caminho errado. Qualquer julgamento a ser feito, assim como qualquer solução a ser proposta, depende essencialmente do entendimento das motivações reais de cada lado. E os debatedores acima, ao contar com má análise de dados e seguir uma teoria de divinização e demonização, são incapazes de comprovar seus argumentos e, portanto, de julgar ou propor soluções para o fim da violência.
O que as experiências indicam, ao passarem por análises melhores (que, pelo menos, são mais precisas e representativas que as historinhas contados pelos lados), é que o Estado de Israel age motivado pela criação de sanções contra terroristas. Afinal, em momentos com mais terrorismo, Israel ataca mais. Mais ainda, as análises mostram que ataques de Israel não geram aumentos de terrorismo no curto prazo, o que pode indicar que Israel não age preventivamente (o que é coerente com a lógica de sanções). Ao mesmo tempo, parecem haver motivações políticas para as ações israelenses: Israel parece atacar também em função das negociações para o acordo de paz.
Por outro lado, a tese de que mais ataques de Israel levam a mais ódio e mais terrorismo parece infundada. Como dito anteriormente, em média, os movimentos terroristas não atacam mais nem menos nos dias e semanas após uma incursão israelense em território palestino. Isso não quer dizer que as sanções não estejam sendo efetivas no longo prazo (podem não estar sendo efetivas, como podem estar sendo). Somente mostra que terrorismo não responde a ataques israelenses. Dados de pesquisa de opiniões políticas entre palestinos confirmam isso: em média, ataques israelenses não têm efeito duradouro sobre a quantidade de palestinos apoiando movimentos e teses radicais (mais precisamente, dentro de três meses de um ataque de Israel, o "nível de radicalismo" já voltou ao normal).
Do lado moral, os dois lados (de defesa e oposição a estratégia israelense) parecem ter conceitos errados. Em primeiro lugar, a idéia de reação (des)proporcional pode, em alguns contextos, não fazer sentido. O motivo para isso é que a expectativa de uma reação desproporcional pode desencorajar os ataques terroristas. Ou seja, se o Estado de Israel pudesse se comprometer com reações desproporcionais, é pouco provável que terrorismo existisse. Na realidade, algo do tipo ocorreu na Colômbia entre 1946-1950: Chacón, Robinson e Torvik mostram que em distritos colombianos nos quais um dos lados do embate era desproporcionalmente mais forte que outro, o conflito era menos provável. Se isso ocorre em Israel, porém, como ocorreu na Colômbia, não sabemos ainda.
Por fim, a teoria de Dershowitz parece ter pouco apoio na realidade. É verdade, países que passam por democratizações, em média, passam a enfrentar mais terrorismo. Porém, devemos perceber que a estratégia de usar casas e abrigos civis para proteger revolucionários é usada por diversas guerrilhas do mundo atuando em democracias e não democracias. Sendo assim, não é alguma questão ligada a democracia e à moral inerente a ela que leva ao uso de escudos humanos e a morte de civis. Mas sim, uma questão de que paises autocráticos tem o apoio da lei para inibir participação política de qualquer ordem, inclusive, em movimentos terroristas.
Se o objetivo for apontar culpados, devemos apontar como culpado pelas mortes civis israelenses os movimentos palestinos, sem dúvida. Julgar as mortes palestinas, porém, é mais complicado. Movimentos terroristas provavelmente antevêem a reação de Israel a seus ataques. Ou seja, pelo direito de defesa israelense (e não pela tese de Dershowitz), os movimentos palestinos são culpados pelas mortes de seus co-nacionais. Israel, por outro lado, apesar de co-responsável pelas mortes civis palestinas, pode ser julgado como adotando ações morais ou não dependendo do peso que atribuímos a mortes de civis e a direito de auto-defesa.
Porém, muito mais relevante e produtivo é a discussão de soluções. Para isso, sugiro alguns caminhos, e todos eles passam pela compreensão dos motivadores de terrorismo e pela redução do número de mortes civis geradas por Israel. O primeiro se inicia pela asserção óbvia de que, independente do sucesso das punições, ainda existe terrorismo. Portanto, devemos propor políticas complementares às punições, para torná-las mais efetivas. O segundo é oferecer formas alternativas dos palestinos participarem da política e conseguirem seu Estado. O terceiro, é entender o porquê da falta de capacidade de Israel e dos movimentos terroristas se comprometerem com um acordo de paz. Tento falar delas noutro texto.
Referências:
Berrebi e Klor (2006), "On Terrorism and Electoral Outcomes: Theory and Evidence from the Israeli Palestinian Conflict", Journal of Conflict Resolution no.6
Chacón, Robinson e Torvik (2006), "When is Democracy an Equilibrium? Evidence from Colombia's La Violencia", Trabalho em progresso
Jaeger e Paserman (2008), "The Cycle of Violence? An Empirical Analysis of the Fatalities in the Israeli-Palestinian Conflict", American Economic Review 3
Jaeger e Paserman (2006), "Israel, the Palestinian Factions, and the Cycle of Violence", American Economic Review P&P
Jaeger; Klor; Miaari; Paserman (2008), "The Struggle for Palestinian Hearts and Minds: Violence and Public Opinion in the Second Intifada", NBER Working Paper no. 13956.
De um lado, defensores das ações israelenses dizem que os ataques do governo são estrategicamente e moralmente justificáveis, tanto por criar uma punição ao terrorismo quanto pelo direito do Estado de Israel de se defender. Outro argumento, de Alan Dershowitz, conhecido advogado de Harvard, joga a culpa por mortes civis palestinas aos movimentos terroristas: a atuação moral e democrática de Israel, evitando mortes civis, incentiva o uso de escudos humanos como proteção por parte do Hamas, o que não ocorreria fosse Israel uma autocracia.
Por outro lado, os opositores da estratégia israelense argumentam que os ataques israelenses só geram ódio dos palestinos contra judeus, o que motiva mais terrorismo. Além do mais, mortes civis palestinas não são justificáveis por mortes civis israelenses; e a desproporcionalidade dos ataques israelenses, muito mais fortes que os ataques terroristas, é um absurdo humanitário.
Apesar das defesas apaixonadas dessas teses, o debate seguiu o caminho errado. Qualquer julgamento a ser feito, assim como qualquer solução a ser proposta, depende essencialmente do entendimento das motivações reais de cada lado. E os debatedores acima, ao contar com má análise de dados e seguir uma teoria de divinização e demonização, são incapazes de comprovar seus argumentos e, portanto, de julgar ou propor soluções para o fim da violência.
O que as experiências indicam, ao passarem por análises melhores (que, pelo menos, são mais precisas e representativas que as historinhas contados pelos lados), é que o Estado de Israel age motivado pela criação de sanções contra terroristas. Afinal, em momentos com mais terrorismo, Israel ataca mais. Mais ainda, as análises mostram que ataques de Israel não geram aumentos de terrorismo no curto prazo, o que pode indicar que Israel não age preventivamente (o que é coerente com a lógica de sanções). Ao mesmo tempo, parecem haver motivações políticas para as ações israelenses: Israel parece atacar também em função das negociações para o acordo de paz.
Por outro lado, a tese de que mais ataques de Israel levam a mais ódio e mais terrorismo parece infundada. Como dito anteriormente, em média, os movimentos terroristas não atacam mais nem menos nos dias e semanas após uma incursão israelense em território palestino. Isso não quer dizer que as sanções não estejam sendo efetivas no longo prazo (podem não estar sendo efetivas, como podem estar sendo). Somente mostra que terrorismo não responde a ataques israelenses. Dados de pesquisa de opiniões políticas entre palestinos confirmam isso: em média, ataques israelenses não têm efeito duradouro sobre a quantidade de palestinos apoiando movimentos e teses radicais (mais precisamente, dentro de três meses de um ataque de Israel, o "nível de radicalismo" já voltou ao normal).
Do lado moral, os dois lados (de defesa e oposição a estratégia israelense) parecem ter conceitos errados. Em primeiro lugar, a idéia de reação (des)proporcional pode, em alguns contextos, não fazer sentido. O motivo para isso é que a expectativa de uma reação desproporcional pode desencorajar os ataques terroristas. Ou seja, se o Estado de Israel pudesse se comprometer com reações desproporcionais, é pouco provável que terrorismo existisse. Na realidade, algo do tipo ocorreu na Colômbia entre 1946-1950: Chacón, Robinson e Torvik mostram que em distritos colombianos nos quais um dos lados do embate era desproporcionalmente mais forte que outro, o conflito era menos provável. Se isso ocorre em Israel, porém, como ocorreu na Colômbia, não sabemos ainda.
Por fim, a teoria de Dershowitz parece ter pouco apoio na realidade. É verdade, países que passam por democratizações, em média, passam a enfrentar mais terrorismo. Porém, devemos perceber que a estratégia de usar casas e abrigos civis para proteger revolucionários é usada por diversas guerrilhas do mundo atuando em democracias e não democracias. Sendo assim, não é alguma questão ligada a democracia e à moral inerente a ela que leva ao uso de escudos humanos e a morte de civis. Mas sim, uma questão de que paises autocráticos tem o apoio da lei para inibir participação política de qualquer ordem, inclusive, em movimentos terroristas.
Se o objetivo for apontar culpados, devemos apontar como culpado pelas mortes civis israelenses os movimentos palestinos, sem dúvida. Julgar as mortes palestinas, porém, é mais complicado. Movimentos terroristas provavelmente antevêem a reação de Israel a seus ataques. Ou seja, pelo direito de defesa israelense (e não pela tese de Dershowitz), os movimentos palestinos são culpados pelas mortes de seus co-nacionais. Israel, por outro lado, apesar de co-responsável pelas mortes civis palestinas, pode ser julgado como adotando ações morais ou não dependendo do peso que atribuímos a mortes de civis e a direito de auto-defesa.
Porém, muito mais relevante e produtivo é a discussão de soluções. Para isso, sugiro alguns caminhos, e todos eles passam pela compreensão dos motivadores de terrorismo e pela redução do número de mortes civis geradas por Israel. O primeiro se inicia pela asserção óbvia de que, independente do sucesso das punições, ainda existe terrorismo. Portanto, devemos propor políticas complementares às punições, para torná-las mais efetivas. O segundo é oferecer formas alternativas dos palestinos participarem da política e conseguirem seu Estado. O terceiro, é entender o porquê da falta de capacidade de Israel e dos movimentos terroristas se comprometerem com um acordo de paz. Tento falar delas noutro texto.
Referências:
Berrebi e Klor (2006), "On Terrorism and Electoral Outcomes: Theory and Evidence from the Israeli Palestinian Conflict", Journal of Conflict Resolution no.6
Chacón, Robinson e Torvik (2006), "When is Democracy an Equilibrium? Evidence from Colombia's La Violencia", Trabalho em progresso
Jaeger e Paserman (2008), "The Cycle of Violence? An Empirical Analysis of the Fatalities in the Israeli-Palestinian Conflict", American Economic Review 3
Jaeger e Paserman (2006), "Israel, the Palestinian Factions, and the Cycle of Violence", American Economic Review P&P
Jaeger; Klor; Miaari; Paserman (2008), "The Struggle for Palestinian Hearts and Minds: Violence and Public Opinion in the Second Intifada", NBER Working Paper no. 13956.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Brasil e crise
Tendo em vista a atual crise econômica, muitos aconselham que o Brasil sustente o seu crescimento via demanda interna. A motivação para tal vem do fato de que o Brasil, no último ano, cresceu muito em função de crescimento do consumo e investimento nacional (e menos em função de exportações). Argumenta-se: por mais que a queda nas exportações (decorrente da recessão mundial) possa vir a gerar desemprego, ainda assim, deveríamos poder sustentar o crescimento do pais, via política monetária mais frouxa e maiores gastos do governo. Por que devemos deixar que o nosso crescimento seja dependente do resto do mundo?
A defesa de tal tese, porém, incorre em um grave esquecimento da história brasileira. Na época do governo Geisel, para evitar as conseqüências do primeiro choque do petróleo, criou-se o II PND (que, com verbas do governo, procurava incentivar o desenvolvimento de indústrias de bens de capital e insumos) e o Pró-Álcool (focado em reduzir a dependência brasileira do petróleo). Por mais que o governo Geisel tenha sido bem sucedido em sustentar algum crescimento, o resultado foi endividamento externo. Uma vez tendo explodido o segundo choque do petróleo, apareceu a crise no Brasil.
Algo semelhante poderia ocorrer atualmente. Fosse o Brasil começar a crescer com base em demanda interna, teríamos um aumento nas importações (acompanhado de queda das exportações), o que geraria endividamento externo. Em um cenário ruim, no qual o mercado financeiro americano permaneça com problemas durante muito tempo, estaríamos, dentro de alguns anos, numa posição desconfortável de grande endividamento externo e pouco capital internacional disponível.
É verdade, em 2008, o Brasil teve crescimento em torno da demanda interna (com queda nas exportações líquidas), e ao mesmo tempo, a dívida externa líquida brasileira chegou no seu mínimo. Ou seja, exatamente o contrário do que enunciei acima. Porém, o que possibilitou esse acontecimento em 2008 foi a grande quantidade de Investimentos Diretos Estrangeiros no Brasil. Em momentos de crise como a atual, o pouco capital internacional disponível dificultaria os investimentos diretos, e portanto, a repetição de 2008.
Só seria capaz de conter esse cenário a possibilidade de depreciação cambial sem inflação (isso conteria o avanço das importações e do endividamento externo). Porém, isso só é factível se tivermos um Banco Central com capacidade de ancorar as expectativas inflacionárias, mais normalmente feito via sistema de metas para inflação, e com autonomia para agir contra a inflação.
Vivemos um momento de crise internacional, a mais grave desde a crise de 29. Ao mesmo tempo, não enfrentamos nenhum grande choque de demanda interna (via consumo ou investimentos). Nesse caso, se existe alguma possibilidade de sustentarmos algum crescimento, ela depende crucialmente de independência do Banco Central e de gastos governamentais responsáveis. Qualquer alternativa tem grande risco de resultar, a médio prazo, numa nova década perdida. Só teremos espaço para uso de políticas de estímulo econômico se tivermos queda forte de demanda interna (via consumo e investimentos).
Obs.: Agradeço sugestões do Ricardo, e como não podia faltar, "all further mistakes are of my own responsibility".
A defesa de tal tese, porém, incorre em um grave esquecimento da história brasileira. Na época do governo Geisel, para evitar as conseqüências do primeiro choque do petróleo, criou-se o II PND (que, com verbas do governo, procurava incentivar o desenvolvimento de indústrias de bens de capital e insumos) e o Pró-Álcool (focado em reduzir a dependência brasileira do petróleo). Por mais que o governo Geisel tenha sido bem sucedido em sustentar algum crescimento, o resultado foi endividamento externo. Uma vez tendo explodido o segundo choque do petróleo, apareceu a crise no Brasil.
Algo semelhante poderia ocorrer atualmente. Fosse o Brasil começar a crescer com base em demanda interna, teríamos um aumento nas importações (acompanhado de queda das exportações), o que geraria endividamento externo. Em um cenário ruim, no qual o mercado financeiro americano permaneça com problemas durante muito tempo, estaríamos, dentro de alguns anos, numa posição desconfortável de grande endividamento externo e pouco capital internacional disponível.
É verdade, em 2008, o Brasil teve crescimento em torno da demanda interna (com queda nas exportações líquidas), e ao mesmo tempo, a dívida externa líquida brasileira chegou no seu mínimo. Ou seja, exatamente o contrário do que enunciei acima. Porém, o que possibilitou esse acontecimento em 2008 foi a grande quantidade de Investimentos Diretos Estrangeiros no Brasil. Em momentos de crise como a atual, o pouco capital internacional disponível dificultaria os investimentos diretos, e portanto, a repetição de 2008.
Só seria capaz de conter esse cenário a possibilidade de depreciação cambial sem inflação (isso conteria o avanço das importações e do endividamento externo). Porém, isso só é factível se tivermos um Banco Central com capacidade de ancorar as expectativas inflacionárias, mais normalmente feito via sistema de metas para inflação, e com autonomia para agir contra a inflação.
Vivemos um momento de crise internacional, a mais grave desde a crise de 29. Ao mesmo tempo, não enfrentamos nenhum grande choque de demanda interna (via consumo ou investimentos). Nesse caso, se existe alguma possibilidade de sustentarmos algum crescimento, ela depende crucialmente de independência do Banco Central e de gastos governamentais responsáveis. Qualquer alternativa tem grande risco de resultar, a médio prazo, numa nova década perdida. Só teremos espaço para uso de políticas de estímulo econômico se tivermos queda forte de demanda interna (via consumo e investimentos).
Obs.: Agradeço sugestões do Ricardo, e como não podia faltar, "all further mistakes are of my own responsibility".
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