sábado, 5 de junho de 2010

Israel, Hamas e a flotilla de ajuda internacional

Existe uma mania mundial de pensar que tudo que se declara como ajuda humanitária é bom para o mundo e para as pessoas, e que só os perversos podem se prejudicar com tanto iluminismo. Isso não é verdade nem de acordo com os mais simples ditados de sabedoria popular...

Um exemplo claro de que nem sempre a ajuda internacional é boa é a recente flotilla de ajuda à Gaza. Para explicar o porquê disso, vale rever um pouco da história recente do conflito Israel-Hamas. O Hamas chegou ao poder em 2006 na faixa de Gaza, e expulsou de lá, na base da guerra, todos que fizessem oposição ao seu "governo" (assim como o al-Fatah fez na Cisjordânia). Tendo o controle da faixa de Gaza, o grupo manteve suas atividades de usar casas de civis palestinos para lançar mísseis (obtidos com financiamento iraniano) e tentar matar cidadãos israelenses. Por esse motivo, Israel criou um bloqueio à entrada de cimento, máquinas e outras coisas que pudessem ser usadas pelo Hamas na criação de armazéns de armas, túneis subterrâneos para contrabando, construção mísseis e nos ataques frequentes que o movimento fazia à Israel (para quem não conhece, procure se informar sobre a rotina da cidade de Sderot antes da guerra contra o Hamas, que era alvo de um míssil por dia). Por esse motivo também que houve a guerra contra o Hamas no final de 2008.

O grande problema dos palestinos na Faixa de Gaza é o Hamas no poder. Este é um movimento que governa sem oposição, comprando e forçando a população a agir de acordo com a agenda do grupo. Isso é feito de forma bastante simples: para oferecer ajuda internacional, os recursos devem passar pelas mãos do Hamas, para que o Hamas distribua os recursos de acordo com os seus interesses. Aqueles que não oferecerem suas casas como base de lançamentos de mísseis serão punidos, tanto com base em redução do acesso à serviços públicos, quanto com base em violência.

O bloqueio a Gaza, no final, tende a enfraquecer o Hamas: em primeiro lugar, o movimento perde recursos para fazer ajuda internacional. Em segundo lugar, as más condições econômicas favorecem o aparecimento de novos grupos que sejam capazes de competir politicamente com o Hamas, seja legal ou ilegalmente. Por fim, mesmo que o Hamas reaja às más condições econômicas com repressão da oposição, ele estará mais enfraquecido assim do que sob boas condições econômicas: se isso não fosse verdade, o Hamas forçaria as más condições econômicas por conta própria e se utilizaria de repressão em momentos de boas condições econômicas (o que não me parece nem um pouco razoável). O povo palestino na Faixa de Gaza se prejudica enormemente dessa situação. Mas devemos deixar bem claro: o problema dos moradores da Faixa de Gaza é o poder do Hamas, e o enfraquecimento do Hamas (com a manutenção de algum grupo pacífico que faça ajuda social) é a única política possível para melhorar a vida dos palestinos no longo prazo. O problema é que não conhecemos nenhuma política diferente de sanções que seja capaz reduzir a força de um movimento político no poder.

Após a longa digressão para entender o porquê do bloqueio econômico à Gaza, eu volto ao caso da flotilla. A flotilla estava em desacordo com a lei de um país democrático e soberano, que impôs um bloqueio econômico a uma região dominada por um movimento terrorista que transforma os seus civis em militares (ao forçá-los a usar suas casas como bases de lançamentos de mísseis). Os membros da flotilla disseram que não entregariam a ajuda nas mãos de Israel, pois eles nao ditribuiriam o cimento, as máquinas e a ajuda de reconstrução. O que eles "não perceberam" é que eles, ao fazer essa escolha, estão entregando a ajuda nas mãos do Hamas. A flotilla não tomou o lado do povo palestino: ela tomou o lado do Hamas contra Israel. Ela agiu na direção de perpetuar um grupo político populista e violento, e de continuar subjugando o povo palestino aos maus governos que o povo tem enfrentado.

O pior é que, quando Israel tenta se proteger e fazer a lei valer, os seus militares são recebidos na base da porrada. A sabedoria popular nos diz: o inferno está cheio de boas intenções, talvez até melhores que as da flotilla.

ATUALIZAÇÃO 1: O relato de serviços de inteligência israelenses sobre a preparação da flotilla está aqui. O relato também fala sobre as ligações do primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdogan com o grupo que organizou a flotilla.

ATUALIZAÇÃO 2: Sobre ligações da organização da flotilla com o Hamas e outros movimentos terroristas árabes, o relato da central de inteligência israelense é esse. Alguém no Brasil tem que dizer qual é o lado de Israel na história...

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