
A correlação pode indicar diversos fatores: (a) produções de algodão indicam uso de mão-de-obra escrava, e portanto, indicam maior concentração de negros (entre os negros, o Obama ganhou com margem de cerca de 90%, se eu não me engano); (b) indicar que essas áreas, por terem virado urbanas, hoje tem alta concentração populacional (democratas tendem a ganhar em regiões fortemente urbanizadas); (c) a região, anteriormente produtora de algodão, até hoje é mais pobre e, por isso, tende a votar a favor dos democratas.
Fatores estranhos de qualquer uma dessas teses: (a) é surpreendente que, nos Estados Unidos, a mobilidade de negros tenha sido baixa o suficiente para preservar esses distritos como negros (afinal, a mobilidade dos trabalhadores nos EUA é alta). Mas essa é uma tese plausível, pois pode ter ocorrido por alguma dinâmica de segregação, ou simplesmente, o maior nível de pobreza dos negros em 1860 reduziu sua mobilidade. Com relação a tese (b) (roubada de um comentário do blog do Chris Blattman), só é estranho ver uma área cuja vantagem comparativa era produção agrícola de repente transformar-se em área urbana. Isso pode ter ocorrido se o fim da escravidão tiver gerado grande concentração de mão de obra pobre, desempregada e com pouca mobilidade, o que por vez incentiva a concentração destes em centros urbanos. Porém, mais estranha ainda é a tese (c), afinal, estudos indicam que há convergência de renda nos Estados Unidos (Sala-i-Martin e Barro (1992), e comentando o aumento recente da desigualdade de renda americana, temos o Enrico Moretti, com um paper chamado "Real Wage Inequality", que mostra que, uma vez descontados os diferenciais regionais de inflação de preços de imóveis, a desigualdade de renda não tem subido). Essa idéia de que há convergência também pode colocar em dúvida as teses (a) e (b), que dependem de baixa mobilidade e de algum tipo de armadilha de pobreza...