Abaixo, mostramos uma correlação interessante entre plantações de algodão nos anos 1860's e padrões de voto nas últimas eleições americanas (roubado do blog do Chris Blattman). Os distritos azuis indicam vitória democrata, enquanto que os distritos vermelhos, vitória republicana. O mapa também só mostra o sudeste americano.
A correlação pode indicar diversos fatores: (a) produções de algodão indicam uso de mão-de-obra escrava, e portanto, indicam maior concentração de negros (entre os negros, o Obama ganhou com margem de cerca de 90%, se eu não me engano); (b) indicar que essas áreas, por terem virado urbanas, hoje tem alta concentração populacional (democratas tendem a ganhar em regiões fortemente urbanizadas); (c) a região, anteriormente produtora de algodão, até hoje é mais pobre e, por isso, tende a votar a favor dos democratas.
Fatores estranhos de qualquer uma dessas teses: (a) é surpreendente que, nos Estados Unidos, a mobilidade de negros tenha sido baixa o suficiente para preservar esses distritos como negros (afinal, a mobilidade dos trabalhadores nos EUA é alta). Mas essa é uma tese plausível, pois pode ter ocorrido por alguma dinâmica de segregação, ou simplesmente, o maior nível de pobreza dos negros em 1860 reduziu sua mobilidade. Com relação a tese (b) (roubada de um comentário do blog do Chris Blattman), só é estranho ver uma área cuja vantagem comparativa era produção agrícola de repente transformar-se em área urbana. Isso pode ter ocorrido se o fim da escravidão tiver gerado grande concentração de mão de obra pobre, desempregada e com pouca mobilidade, o que por vez incentiva a concentração destes em centros urbanos. Porém, mais estranha ainda é a tese (c), afinal, estudos indicam que há convergência de renda nos Estados Unidos (Sala-i-Martin e Barro (1992), e comentando o aumento recente da desigualdade de renda americana, temos o Enrico Moretti, com um paper chamado "Real Wage Inequality", que mostra que, uma vez descontados os diferenciais regionais de inflação de preços de imóveis, a desigualdade de renda não tem subido). Essa idéia de que há convergência também pode colocar em dúvida as teses (a) e (b), que dependem de baixa mobilidade e de algum tipo de armadilha de pobreza...
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
sábado, 6 de dezembro de 2008
IPEA e os (maus) incentivos a pesquisa
Antes de ontem (dia 4 de dezembro), foi anunciado que o IPEA fará um programa de incentivo a pesquisa em economia em colaboração com professores de universidades federais e estaduais. A idéia é dar cerca de 3 mil reais por mês para cada professor, bolsa essa que duraria 12 meses, o que acarretaria gastos totais do programa de cerca de 1 milhão e duzentos mil reais.
Isso faz pensar: pelo menos temos algum esforço para incentivar a pesquisa no Brasil. Ainda mais, o risco de professores se inscreverem para o recebimento da bolsa e nada fazerem é parcialmente solucionado: para receber a bolsa, o pesquisador deve ter um projeto de pesquisa em desenvolvimento econômico pré-aprovado pela universidade e pelo IPEA. A concorrência entre professores de uma mesma universidade deveria incentivar o aparecimento de projetos de pesquisa, e o “subsídio” a pesquisa pode ser um mecanismo de incentivo razoável em um mercado em que os riscos de o projeto não dar certo são altos (Gustavo Manso, 2005).
Aí começam a vir as dúvidas. Para começar, o que impede um professor de criar um projeto de pesquisa e, após o recebimento da bolsa, nada fazer? Com certeza, nesse ponto, dependemos somente da motivação individual dos pesquisadores das universidades públicas brasileiras. Mas até esse ponto, nenhuma novidade, nada que não seja um problema com quase todos os programas governamentais de incentivo a pesquisa.
O mais grave, na verdade, é: o que garante que os projetos aprovados pelo IPEA terão alguma relevância? A linha do programa denuncia: “O programa pretende contribuir para a geração de políticas sólidas e consistentes com (...) uma visão estratégica para o processo do desenvolvimento brasileiro (...) à luz das contribuições dos maiores pensadores brasileiros.” Para esclarecer: cada pesquisador escolhe um nome (dentre a lista que o IPEA selecionou) e baseia seu projeto de pesquisa nele. Não vou nem entrar na questão de quem foi um grande pensador do desenvolvimento econômico brasileiro. Além disso, esses projetos, normalmente justificados como "criadores de pluralidade do pensamento econômico", tem como "conselho orientador" um nada plural, baseado em nomes como Pochmann, Belluzo, Bresser Pereira, Maria da Conceição Tavares e Delfim Neto.
Não precisa de muito para duvidar do programa: o IPEA está gastando um milhão e duzentos mil reais para estimular revisões da literatura de Celso Furtado, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, entre outros (também incluem o Simonsen e o Roberto Campos, tudo bem, mas vamos lembrar do "conselho orientador"...). Vem quase que por natureza a conclusão: será difícil alguma coisa nova aparecer. E mais difícil ainda, evitar pensar que o IPEA, na expressão do Tiago Caruso, foi pintado de cinza.
Isso faz pensar: pelo menos temos algum esforço para incentivar a pesquisa no Brasil. Ainda mais, o risco de professores se inscreverem para o recebimento da bolsa e nada fazerem é parcialmente solucionado: para receber a bolsa, o pesquisador deve ter um projeto de pesquisa em desenvolvimento econômico pré-aprovado pela universidade e pelo IPEA. A concorrência entre professores de uma mesma universidade deveria incentivar o aparecimento de projetos de pesquisa, e o “subsídio” a pesquisa pode ser um mecanismo de incentivo razoável em um mercado em que os riscos de o projeto não dar certo são altos (Gustavo Manso, 2005).
Aí começam a vir as dúvidas. Para começar, o que impede um professor de criar um projeto de pesquisa e, após o recebimento da bolsa, nada fazer? Com certeza, nesse ponto, dependemos somente da motivação individual dos pesquisadores das universidades públicas brasileiras. Mas até esse ponto, nenhuma novidade, nada que não seja um problema com quase todos os programas governamentais de incentivo a pesquisa.
O mais grave, na verdade, é: o que garante que os projetos aprovados pelo IPEA terão alguma relevância? A linha do programa denuncia: “O programa pretende contribuir para a geração de políticas sólidas e consistentes com (...) uma visão estratégica para o processo do desenvolvimento brasileiro (...) à luz das contribuições dos maiores pensadores brasileiros.” Para esclarecer: cada pesquisador escolhe um nome (dentre a lista que o IPEA selecionou) e baseia seu projeto de pesquisa nele. Não vou nem entrar na questão de quem foi um grande pensador do desenvolvimento econômico brasileiro. Além disso, esses projetos, normalmente justificados como "criadores de pluralidade do pensamento econômico", tem como "conselho orientador" um nada plural, baseado em nomes como Pochmann, Belluzo, Bresser Pereira, Maria da Conceição Tavares e Delfim Neto.
Não precisa de muito para duvidar do programa: o IPEA está gastando um milhão e duzentos mil reais para estimular revisões da literatura de Celso Furtado, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, entre outros (também incluem o Simonsen e o Roberto Campos, tudo bem, mas vamos lembrar do "conselho orientador"...). Vem quase que por natureza a conclusão: será difícil alguma coisa nova aparecer. E mais difícil ainda, evitar pensar que o IPEA, na expressão do Tiago Caruso, foi pintado de cinza.
Assinar:
Postagens (Atom)