Nos últimos anos, diversos países europeus começaram a proibir o uso pessoal de objetos religiosos em escolas, órgãos do governo e em outras ocasiões. Agora, o governo laico da Síria também proibiu o uso do véu islâmico em universidades, com medo da recente popularização do uso do véu e das potenciais conseqüências disso para um governo laico no Oriente Médio. Muitos argumentam em favor dessas leis, dizendo que o véu islâmico deve ser reprimido por ser uma opressão da mulher em grupos islâmicos.
Não sei, porém, se a restrição ao uso do véu é uma forma eficaz de reduzir a opressão da mulher no mundo islâmico: se o véu é uma forma de oprimir as mulheres no mundo islâmico (e não é simplesmente cumprimento da religião), os homens utilizam essa forma de opressão porque preferem tê-las oprimidas, e não por gostar do véu. A restrição ao véu torna mais caro para os homens um único meio de opressão das mulheres, o que induz os homens a substituirem o véu por outros meios de opressão. Mais ainda, o não cumprimento da religião pode se traduzir em menor poder de barganha da mulher em um domicílio islâmico religioso, e mais espaço para o homem oprimir a mulher. Colocando de outra forma, pode ser que a opressão ao véu acabe gerando mais opressão à mulher, que passa a ser aquela que não cumpre a religião, ao invés da protegida pela lei.
É importante que mulheres tenham direitos iguais aos dos homens de ir a escola e ter um trabalho, e é importante reprimir a violência doméstica contra mulheres. Para fazê-lo nesses lugares em que as mulheres são oprimidas, acredito que deveríamos subsidiar a ida de mulheres à escola, subsidiar o emprego de mulheres e fazer mais "leis Maria da Penha". Fazendo isso, não só tornaríamos esses meios de opressão mais caros, como também aumentaríamos o poder de barganha das mulheres dentro do domicílio. Aí sim eu teria mais segurança de que o Estado está lutando contra a opressão das mulheres.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
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